terça-feira, 14 de agosto de 2007

ora pompons

...audácia do chico manco querendo dançar tango com a carola josefina em plena missa do galo justo na hora em que o padre erguia a porra da hóstia para lançar aquele papo todo sobre o sangue e o corpo de jesuis cristinho pregado na cruz do ego das almas insufladas com remorsos escalafobéticos de tempos imemoriais. há que ter peito e cara dura, e peito muito diga-se, aliás, quando não costas largas ou quentes para se empedernir de tamanha obsessão! tango com a carola josefina, humpf! não que ela não fosse querer adispois de tanto tempo sem encostar em homem nenhum até que não seria má idéia ter os quartos de chico manco colados nos dela, no esfrega-esfrega da festa de natal que se seguiria às descerebrações populares religiosas que tanto faziam em prol do emburrecimento do povo chucro do quintão das mulas...

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

pret-à-porter

truculência marfinizada. era assim que ele agia, como se fosse um troglodita com curso de etiqueta. se preciso fosse, espancar. mas nunca sem antes tentar convencer da necessidade propriamente dita do uso da violência. como naquele samba do paulinho, deixava a marca dos dentes alheios no braço ou onde fosse para caso o queixoso ou queixosa fosse reclamar ao representante da lei sobre a surra recebida. não era por nada que ele usava aquela camiseta onde não estava escrito eu te amo, mas sim "orientador". claro estava que era apenas um eufemismo para o bom e surrado (e mais explicativo) termo leão-de-chácara, embora ele sequer tivesse a mais remota noção do que fosse ou viesse a ser um eufemismo. se algum dia ele tivesse ouvido essa palavra, a seus ouvidos avessos a vocabulários ou vocábulos complicados ela teria soado como algo tipo "ah, sim, coisa de viado!"... fora esses percalços que ele definia como (sic) "incidentes de percurso", no mais das vezes ele era tido e havido como um cara muito educado, amigo dos amigos. "uma verdadeira moça", teria dito alguém desde que os ouvidos dele estivessem óbvia e prudentemente fora do alcance de tais palavras que poderiam ser muito mal compreendidas e gerar mais uma surra daquelas...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

caminhando pela estrada

cran! cran! cran! de novo: cran! cran! cran! passos pesados no caminho desbordado de esquisitices. ela cantaenrolava uma canção infatuada, infantilóide.
- sha la la lala.
ouviam-se pingos de chuva grossos como marteladas no chão de terra, levantando poeira da greda vermelha.
- sha la la lala.
ninguém mais tinha tempo para olhar quem ia ou quem vinha. havia sempre que pensar em outras mesquinharias mais urgentes naqueles dias de ranger dentes e botar pra quebrar.
- um beijo, não?
que porcaria de beijo coisa nenhuma, menina. você nem sequer sabia meu nome nem estava querendo saber. e agora essa conversa desbragalada de querer beijo. nem pio queria ouvir, estava puto, muito puto, pasmado de espantalhosidade, quase imóvel emudecidamente engolindo em seco as palavras que brotavam de algum lugar entre a nuca e o peito.
- o quié qui tem demais um beijinho?
insistência tamanha não se via há muito. criança desaforada, falta de respeito com os demais ao rededor, só não te mando a mão porque vão fazer bonchinchos, chamar os porcos, camburão luzindo, e eu vou acabar de novo naquela cadeia de merda com aqueles coxos do cérebro, que não conseguem juntar sujeito verbo predicado sem que pareça conversa de doido varrido...

sábado, 4 de agosto de 2007

das antigas...

a quem interessar, vai aí o link pra edição antiga do blog - ou o que sobreviveu dela...

hiroshima, mon amour

sushi ouvindo sacha distel. parecia coisa de louco mas era bacana. "peixe cru?", ela perguntorceu-se de uma certa ânsia, um quase nojo que me fez lembrar aquela cena de "o tambor", onde os caras ficam limpando enguias para comer e a moça quase morre de asco. não há nada demais em descelebrar as coisas ditas exóticas. dessacralizar o espanto. peixe cru, sim. afinal, os árabes não comem carne crua nos seus quibes e outros quitutes quetais? ela continuava com cara de quem poderia vomitar a qualquer momento. achei prudente não lembrar que chineses comem cachorros como iguaria das mais habituais e outros povos cuja origem ou etnia eu não vou lembrar comem insetos, crus ou assados ou flambados... eis aí algo que eu nunca conseguiria fazer sem tocar fogo na cozinha, mais do que na coisinha: flambar. falei tentando mudar de assunto e dar um up no humor geral da mesa, ainda que sem fugir ao excitante tema do momento, ou seja, culinária e seus percalços. "saquê?", a moça que nos atendia perguntou. "se tem álcool eu quero", ela disse, certamente tentando abafar num pileque nipônico todo seu horror pelos pedaços de peixes cruz esparramados artisticamente diante de nós.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

lá onde as coisas são mais complicadas

- eu estou morrendo.
ela sorriu um daqueles sorrisos "que papo é esse?".
- bom, todos nós estamos...
- é, mas eu estou morrendo mais rápido.
a trovoada veio logo em seguida. ou teria sido alguns instantes antes. de qualquer maneira, aquilo era muito mais do que uma conversa sobranceira a respeito de currículos, portifólios, imbroglios e outros assuntos que pudessem ser burocraticamente empurrados com a barriga. por mais que os dois se esforçassem por ser ambos como sempre tinham sido, isso simplesmente não era mais possível nas condições atuais. depois de 20 anos nada do que foi será do jeito que já foi um dia. a situação era desconfortável e era preciso identificar logo a rota de saída mais próxima sem incorrer em comprometimentos diversos que prejudicassem a tão desejada retomada do relacionamento. para sorte dos dois, antes que tudo assumisse ares de velório previamente anunciado, a garçonete tropeçou nos próprios pês quando vinha em direção à mesa, trazendo a bandeja com toda a tranquidanda de xícaras, açucareiro, adoçante, cinzeiro e sabe-se lá mais o quê. inútil tentar ficar sério nessas horas, ainda mais depois do soturno princípio de recomeço. e os dois começaram a rir muito como há muito tempo não faziam enquanto a gerente saía correndo detrás do balcão e a garçonete tentava se colocar novamente em pê...

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

bum bum paticumbum!!!

bem bum que me falharam quando as ilegítimas pré-indisposições se manifestaram a miúde diante dos girafales galhofeiros extasiados em si bemol. cricas que ele chamaria de vulvas, mas enfim cricas umedecidas ainda que recalcitrantes em admitir pernoitações mosquitolentas admoestativas. anchovas ao por do sol, sal do mar como gosto de bolor de velhas ondas que insistem em quebrar os ossossos dos cetáceos salafrários. eu nunca entendi o horror de ahab diante de moby dick por uma questão de gênero e idioma pois sempre que eu lia a história em português, a idéia de uma baleia (ser feminino no cotidiano plurihabitual do nosso português já de há muito nem tão castiço...) me vinha à imaginação como algo não tão apavorante pois que senão quando já havia aquele papo todo rolando da extinção das baleias, coitadinhas, pobres cetáceos em vias de sumirem das faces dos mares. por isso, talvez, ou não, plenamente certo estou agora, eu tinha até uma certa pena de moby dick, a grande baleia branca, e um certo asco do tal capitão ahab. depois de ler o livro de melville (que acabaria, postumamente e contra sua vontade, sendo tioavô ou tiobisavô do moby, aquele músico que faz sucesso com música eletrônica e discursos sobre vegetarianismo e a preservação do planeta) no original idioma inglês, se me caiu a ficha e se me despencaram todos os butiás do bolso como costuma se dizer aqui pelo lados da pampa pobre. claro estava então posto em desassosego: moby dick na língua original de mr. melville é ele, um ele gigantesco e apavorante. mas devo confessar de sopetão e sem mais delongas, no entretanto, sem viscosidades nem ensebações, que mesmo após a leitura de moby dick no original não deixei de me tapar de nojo daquele capitão ahab, um maluco desvairado que leva à morte uma dezena de bravos marináceos, digo marimbeiros, ou melhor, marinheiros, por conta de um insofrenável, desprezível e regurgitante desejo de vingança pessoal contra um ser destituído de razão e sentimento que só fazia vagar aleatoriamente pelos mares do planeta. seria, muito mal comparado, disparatadamente beirando a implausibilidade, como se roberto carlos braga decidisse sair por aí sabotando todos os trens das centrais dos brasis por conta daquele malfadado acidente lá em cachoeiro do itapemirim há dezenas de anos. o que nos leva, aliás, a pensar, já que estamos concomitantemente nos referindo a livrórios e romances livrescos, na tal biografofagia impetrada por um rapaz cujo nome me escapa à já escassa memória no momento, mas que retrata a vida do rei do ié ié ié e que foi devidamente censurada, proibida e remetida aos porões sabe-se lá de que instituição nacional. só faltou queimarem o tal livro em praça pública seguindo modelo anti-cultural soerguido por um tal adolf hitler lá pela alemanha nos idos dos anos 30 do século 20 (ou como insistem alguns coleguinhas da "mídia", os anos 1930...). mas isso tudo é assunto pra outra ora bolas ou hora de somenos importância ou para algum post impertinente sobre tal quirera. por enquanto só me resta recomendar a todos vocês a audição de "um trem passou por aqui", do bravo joelho de porco, disco "saqueando a cidade", 1983, zé rodrix em plena forma. existe em cd. catem! e é bom lembrar que eu nem sequer me chamo ismael...

muito mais mesmo, menina

mumunhas ele tinha e tinha manhas e manhãs rachavam ao frio de julho. no chafariz da pracinha, a água congelava enquanto ele caminhava para a escola (naquele tempo era "grupo escolar"!) e pensava se a punheta batida na cama ainda quente da noite um pouco antes era pecado mortal, venial ou sabe-se lá o quê. de qualquer maneira ele nunca teria coragem de contar aquilo pro padre capuchinho titular da paróquia de são josé na boca do confessionário no sábado seguinte, preparando-se para a missa de domingo. também não contaria que roubava maçãs verdes das árvores bacanas plantadas lá bem no fundo do pátio da igreja. e quando ele passejava com sua turma de moleques safados, o velho costa, gaita no colo, abrindo o fole enquanto esperava o próximo chimarrão, dizia qualquer coisa como "lá vai a gurizada roubar maçã do padre". a essa altura, pouco importava o que o velho costa dizia desde que ele tinha visto as coxas da ann-margret num filme do elvis na matinê de um daqueles domingos modorrentos em que não tinham nem jogo do esporte clube piratini para ver.